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Questões de português

Origem: Unicamp

(Unicamp1994) A coluna "Painel" do jornal "Folha de S. Paulo" publicou a seguinte nota:

LITERALMENTE
Desde a divulgação da pesquisa Data-Folha mostrando que 79% não sabem que Fernando Henrique é o novo ministro da Fazenda, seus adversários no Congresso criaram um novo apelido para ele: "Ilustre desconhecido."
("Folha de S. Paulo", 31.05.93 )

a) Quais os sentidos da expressão "Ilustre desconhecido" quando usada habitualmente em relação a alguém, e como apelido de Fernando Henrique Cardoso?
b) Uma dessas duas interpretações de "Ilustre desconhecido", resulta num paradoxo*. Diga qual é essa interpretação e justifique.
c) O título "Literalmente" é adequado à nota? Por quê?
(*paradoxo = contra-senso, contradição )

resposta:a) Geralmente é uma expressão crônica aplicada a pessoas realmente desconhecidas. No caso de FHC, a ironia é uma pessoa famosa não ter a sua função pública conhecida.

b) A aplicada a FHC: a "conhecido desconhecido".

c) Sim, pois se trata de uma figura ilustre que é momentaneamente desconhecida.



(Unicamp1994) O "Jornal do Automóvel", um dos cadernos do Diário do Povo, de Campinas, em sua edição de 8/8/93, trazia a seguinte notícia:

"Que flagra! O J.A. descobriu os primeiros veículos importados da Ford em Campinas. São eles três mini-van Explorer, que deverão ser lançados no Brasil até o final deste mês."

O Jornal do Automóvel flagrou nesta semana a chegada dos primeiros veículos importados da Ford para o Brasil e que serão vendidos em Campinas pela Forbrasa.
Foram três mini-van Explorer que deverão ser lançados oficialmente pela Ford do Brasil até o final deste mês. A data ainda não foi divulgada mas o lançamento será simultâneo em todo o país em 16 concessionárias autorizadas. A Explorer é apenas o primeiro modelo de passeio que a Ford traz para o Brasil depois da liberação da importação de veículos (...)
Como a Ford ainda não promoveu o lançamento nacional dos veículos, os que vieram para Campinas estão sendo guardados na loja da Forbrasa (...) Quem passa pelo lado de fora não enxerga os automóveis, mas é visível a mudança que a loja está sofrendo para abrigar a nova loja e assistência técnica especializada.

O primeiro parágrafo da notícia presta-se à seguinte interpretação:

"os primeiros três carros importados pela Ford - três mini-vans Explorer - vieram para Campinas: com eles a Ford fará em Campinas o lançamento nacional dos importados Ford".

O restante do artigo fornece informações parcialmente diferentes.

a) Transcreva as passagens que desmentem aquela primeira interpretação.
b) A leitura da segunda parte do texto leva o leitor a mudar sua primeira interpretação. Em que consiste essa mudança?
c) Mostre que as duas interpretações possíveis para o primeiro parágrafo se distinguem pela maneira como se relaciona a expressão "em Campinas" ao restante da frase.

resposta:a) "... o lançamento será simultâneo em todo o país em 16 concessionárias..."

b) O lançamento nacional não será só em Campinas.

c) Na 1 interpretação "em Campinas" liga-se à toda a oração e na 2, ao verbo descobrir.



(Unicamp1994) Em uma de suas colunas, o ombudsman do jornal "Folha de S. Paulo" reproduziu um trecho de uma notícia do "Jornal do Brasil" e fez uma crítica ao título da mesma notícia. O título da notícia do "Jornal do Brasil" era:

MULHERES CARDÍACAS TÊM MAIS CHANCE DE MORRER.

A crítica dizia, simplesmente: "O 'JB' de quarta-feira publicou título óbvio".
Observe agora o começo da notícia publicada pelo "JB":
"WASHINGTON - As mulheres que se submetem à angioplastia têm dez vezes mais probabilidade de morrer no hospital do que os homens. A conclusão foi obtida num estudo..."
("Folha de S.Paulo", 14.03.93 )

a) Como o ombudsman da "Folha" leu a manchete do "JB", para achar que ela diz o óbvio?
b) Qual a leitura da manchete que deve ser feita, com base no texto que a segue?
c) Porque a manchete do "JB" permite essas duas leituras?

resposta:a) Ele entendeu que as mulheres cardíacas têm mais chance de morrer do que as que não são cardíacas.

b) Que as mulheres cardíacas têm mais chance de morrer do que os homens cardíacos.

c) Porque ela não completa a comparação.



(Unicamp1994) Leia atentamente os textos a seguir:

I. Estes são alguns dos equipamentos que a reserva de mercado não permitia a entrada no país sem a autorização do DEPIN.
(FSP, 18.10.92 )
II. Fazer pesquisa insinuando que 64% dos brasileiros acham que existe corrupção no governo Itamar não é um ato inteligente, de um jornal de que todos gostamos e que é dever de nós brasileiros lutar pela conservação de sua isenção".
(Adaptado de Ewerton Almeida, vice-líder do PMDB da Bahia, Painel do Leitor, FSP 08.06.93)

Reescreva os trechos acima, introduzindo as seqüências "cuja entrada" e "cuja isenção", respectivamente. (faça apenas as alterações necessárias, decorrentes da nova estrutura das frases.)

resposta:I. Estes são alguns dos equipamentos cuja entrada no país sem a autorização do DEPIN a reserva de mercado não permitia.

II. ...de um jornal de que todos gostamos e cuja isenção nós brasileiros devemos lutar para que seja conservada.



(Unicamp1994) Lendo a notícia a seguir, você poderá observar que, além de constar da manchete, o verbo COBRAR ocorre duas vezes no texto.

DEFENSOR COBRA INVESTIGAÇÕES NO DSP

O defensor público E.C.K. da 9 vara criminal, levou ao juiz das execuções penais, petição cobrando investigações sobre as denúncias de corrupção envolvendo agentes penitenciários. Um grupo de presos da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos denunciou que agentes do Sistema Penitenciário estariam cobrando Cr$ 5.000,00 por uma vaga nos presídios da Capital. O diretor do DSP, P. Vinholi, disse que ainda não está apurando as denúncias porque considera "impossível" ocorrer tal tipo de transação.
("Diário da Serra", Campo Grande, 26 e 27 de setembro de 1993).

a) Transcreva os dois trechos em que ocorre aquele verbo, na mesma ordem.
b) Reescreva as duas sentenças usando sinônimos de "cobrar".

resposta:a) "... petição cobrando investigações..."
"... estariam cobrando Cr$ 5.000,00

b) ... petição exigindo investigações...
... estariam recebendo Cr$ 5.000,00...



(Unicamp1994) Em duas passagens do texto a seguir, o articulista transmitiu informações objetivamente diferentes das que pretende transmitir.

O que incomoda a população (...) é o piolho da cabeça, que se hospeda geralmente em crianças em idade pré-escolar. Não se sabe ao certo o porquê da maior incidência em crianças, mas se acredita que seja provavelmente pelo contato mais íntimo entre elas. Afinal, só podem ocorrer infestações se a criança entrar em contato com outra, desmitificando assim que o piolho voa ou que o uso comum de pentes e escovas pode ser transmitido.
Outro mito (...) é a transmissão do piolho animal para o ser humano. "Isto não existe porque cada espécie tem seu piolho e se o parasita picar outra espécie que não seja a sua, morre"(...).
("Gazeta de Barão", Campinas, agosto de 1993).

a) Transcreva as duas passagens.
b) Redija-as de forma a evitar as interpretações não desejadas.
c) Justifique uma das "correções" feitas por você em resposta ao item b.

resposta:a) "... o uso comum de pentes e escovas pode ser transmitido."
"... e se o parasita picar outra espécie que não seja a sua, morre(...)"

b) "... o uso comum de pentes e escovas pode transmiti-lo".
"... e se o parasita picar outra espécie que não seja o seu hospedeiro habitual, morre".

c) Não é o uso de pentes que se transmite, e sim o piolho.



(Unicamp1994) Leia com atenção o trecho a seguir:

Desinformar, ensina o dicionário, "é informar mal; fornecer informações inverídicas".
Empregada como arma de guerra, a desinformação significa trabalhar a opinião pública de modo que esta, chamada a decidir sobre idéia, pessoa ou evento, ajuíze conforme o querer do desinformador.
Não se trata de novidade. É recurso tão antigo quanto os conflitos. Porém, no Brasil, raramente foi tão hábil e eficientemente engendrada e utilizada como em 1932 em favor do Governo Provisório. Contribuiu para circunscrever o âmbito da Revolução Constitucionalista, inamistá-la em várias áreas do país e para favorecer a mobilização destinada a enfrentá-la.
Gente simples, recrutada ao norte e ao sul, entrou na luta acreditando combater estrangeiros que tendo se apoderado do controle econômico de S. Paulo, buscavam empalmar o mando político. Isso fariam ajudados por alguns paulistas antigos, egoístas, rancorosos, vingativos, intencionando fazer do Estado um país independente, hostil às áreas e às classes empobrecidas do Brasil. Os intrusos e os separatistas DISFARÇARIAM seus propósitos com o reclamar convocação de assembléia constituinte. Uns e outros deveriam ser combatidos sem piedade.
(Hernâni Donato. "Desinformação, arma de guerra em 1932", DO Leitura, São Paulo, 11(33), junho de 1933").

a) Quem são, segundo o Governo Provisório, os dois inimigos a serem combatidos?
b) O que significa, e a quem se refere, no contexto, a expressão ISSO FARIAM?
c) Dada a tese do autor de que o Governo Provisório desinformava, como devem ser interpretadas as ocorrências do futuro do pretérito, especialmente FARIAM e DISFARÇARIAM?

resposta:a) Estrangeiros e paulistas.

b) Os estrangeiros tomariam o controle econômico do país.

c) Devem ser interpretados como inverdades, pois são hipóteses do discurso das informações inverídicas.



(Unicamp1994) No romance PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM, o capítulo intitulado "Lídia" narra o encontro entre Joana e Lídia.
a) O que ocorre neste encontro?
b) Explicite três conseqüências deste encontro na vida de Joana.

resposta:a) Lídia diz estar grávida de Otávio (marido de Joana), afirma saber quanto é firme a maldade de Joana. Diz, também, que Otávio não gosta de Joana e ela (Lídia) também não.

b) Joana decide que também pode ter um filho e Lídia propõe a devolução de Otávio para que Joana tenha seu filho. Joana acha isso monstruoso, mas Lídia explica que pode não ser e que é bom estar grávida. Joana pensa em si carregando, amamentando o filho e com sua humildade, estará mais perto de Deus.



(Unicamp1994) Em AMAR, VERBO INTRANSITIVO, depois do encontro explicativo entre Fraulein, Sousa Costa e dona Laura, o narrador observa:

"É certo que Fraulein tinha esclarecido muito o que viera fazer na casa deles, porém dona Laura que tinha percebido tudo com a explicação de Felisberto, agora não compreendia mais nada. Afinal: o que era mesmo que Fraulen estava fazendo na casa dela!"

a) Segundo Sousa e Costa, com que finalidade tinha sido contratada Fraulein?
b) Segundo Fraulein, qual era seu papel junto a Carlos?
c) Relacione o mal-entendido mencionado acima com as características de cada uma das três personagens.

resposta:a) para ser governanta.

b) Introduzir o adolescente na vida sexual.

c) Fraulein pensa que dona Laura sabe exatamente o que ela veio fazer na casa, mas a dona da casa foi ludibriada pelo marido.



(Unicamp1994) No primeiro ato da peça A MORATÓRIA, vemos Joaquim irritado dizer para a filha Lucília, que atende suas freguesas vestindo um vestido velho: "ainda somos o que fomos." No segundo ato, ao repreender o filho Marcelo, que deixara de trabalhar no frigorífico, Joaquim afirma num grito: "ainda somos o que fomos!"
a) A que situações na vida da família se referem as falas de Joaquim?
b) Como são encenadas na peça essas situações?
c) A peça representa também um conflito de gerações. De que maneira este conflito é vivido por Marcelo?

resposta:a) à antiga posição social econômica que possuíam.

b) O tempo centraliza-se na crise de 29 - "quebra" da Bolsa de Valores. Corte diagonal do cenário: 1¡. plano - enfocando a casa modesta; 2¡. plano: ocupação da fazenda de café.

c) Marcelo é tratado pela mãe como o "filhinho da mamãe", porém é pobre, boêmio, alcoólatra e vagabundo; trabalha num frigorífico para a vergonha dos pais, pois denota o "rebaixamento" social da família.



(Unicamp1994) Em AS PUPILAS DO SENHOR REITOR, personagens como o Sr. reitor, João Semana, José das Dornas, Guida, são apresentadas de forma positiva, representando valores morais preservados no campo. Nem todas as personagens, contudo, são vistas dessa maneira positiva.
a) Aponte duas personagens (ou grupo de personagens) que são caracterizadas negativamente, explicitando os valores que representam.
b) As personagens de NOITE NA TAVERNA, de Álvares de Azevedo, também apresentam alguns comportamentos considerados negativos. Identifique dois deles.
c) Como se relacionam esses aspectos apresentados como negativos nesses dois romances de tendências românticas e ultra-românticas?

resposta:a) Clara - egoísta, preguiçosa, quer o que é de Guido, até o amor.
Daniel - mulherengo, irresponsável, inconseqüente.

b) Solfieri - bêbado, necrófilo, religiosidade sacrílega.
Bertram - assassino, sem escrúpulo, suicida.

c) Nos romances ultra-românticos os aspectos negativos estão ligados à fantasia; já em AS PUPILAS DO SENHOR REITOR as personagens se equilibram para dar à obra uma visão harmônica, de classe média, podendo tornar-se íntegras.



(Unicamp1994) Leia o seguinte trecho, extraído do prólogo do livro A CONFISSÃO DE LÚCIO:

"Cumpridos dez anos de prisão por um crime que não pratiquei e do qual, entanto, nunca me defendi, (...) eu venho fazer enfim minha confissão: isto é, demonstrar a minha inocência."

a) A afirmação de Lúcio, segundo a qual fará a confissão que comprova a sua inocência no assassinato de Ricardo de Loureiro, aproxima a sua narrativa de um tipo de novela, ou romance, bastante popular já no começo do século e que conserva ainda hoje a popularidade. Que tipo de narrativa é essa?
b) O que o leitor espera saber, ao terminar de ler um romance desse tipo?
c) A confissão feita por Lúcio corresponde a essa expectativa do leitor? Justifique a sua resposta.

resposta:a) Policial.

b) O desvendamento do mistério de um crime.

c) Sim, pois é desvendado o processo que culminou a morte de Ricardo de Loureiro.



(Unicamp1994) Leia atentamente o seguinte poema de Ângelo de Lima:

1 Pára-me de repente o pensamento
2 Como que de repente refreado
3 Na doida correria em que levado
4 Ia em busca da paz do esquecimento

5 Pára surpreso, escrutador, atento
6 Como pára um cavalo alucinado
7 Ante um abismo súbito rasgado.
8 Pára e fica, e demora-se um momento.
9 Pára e fica, na doida correria
10 Pára à beira do abismo, e se demora.
11 E mergulha na noite escura e fria
12 Um olhar de aço, que essa noite explora.
13 Mas a espora da dor seu flanco estria,
14 E ele galga e prossegue sob a espora...
("Revista Sudoeste", Lisboa N.3, 1935, p.4)

a) Nesse poema, opõem-se o movimento desenfreado para a frente e o refreamento. Identifique um verso em que esses dois temas se encontrem reunidos.
b) Identifique dois recursos formais que expressam, reforçando-a, a idéia de refreamento, parada.
c) Explique por que o pensamento nesse poema, é comparado a um "cavalo alucinado". Com base nisso, identifique o "abismo" à beira do qual o pensamento pára e se demora.

resposta:a) "Pára, e fica, na doida correria"

b) A anáfora de "pára" e a estrofação.

c) O pensamento viaja rápido e desgovernado, parando apenas diante de experiências dolorosas e sombrias.



(Unicamp1994) TEMA A

A Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, conhecida também como campanha contra a fome, tem provocado numerosas manifestações contraditórias, reavivando uma discussão antiga sobre a validade da ajuda aos desfavorecidos.
Levando em conta a coletânea a seguir, que contém fatos e opiniões diversas sobre aquela campanha, redija uma dissertação sobre o tema: 'dar o peixe ou ensinar a pescar?'

1. Já são quase 32 milhões de brasileiros famintos, num país que desperdiça somente em alimentos o equivalente a US$ 4 bilhões. Apenas 20% desse desperdício saciaram a fome de todos esses brasileiros miseráveis.
(O avesso da fome, "Jornal do Brasil", 12/09/93.)

2. A cada ano que passa, mil crianças morrem por dia debaixo do céu brasileiro. Morrem de doença para as quais a medicina criou uma infinidade de nomes, todos sinônimos de um só mal: fome, subnutrição.
(Eric Nepomuceno, Caderno FOME, "Jornal do Brasil", 12/09/93.)

3. Há uma miséria maior que morrer de fome no deserto: é de não ter o que comer na Terra de Canaã.
(José Américo de Almeida, "A Bagaceira")

4. Querido Cony,(...) venho te dar os parabéns pela crônica "Não é por aí". Também eu não quero bagunçar a campanha contra a fome(...), mas já era tempo de alguém dizer que para acabar com a fome precisa-se de uma reforma agrária, justiça social, melhor distribuição de renda. A caridade é uma das virtudes teologais, mas para acabar com a fome no Brasil não basta...
(Jorge Amado, Painel do Leitor, "Folha de S.Paulo","24/06/93)

5. Betinho -...há uma relação estreita entre conjuntura e estrutura. Se eu não sou capaz de mudar alguma coisa aqui e agora, seguramente não serei capaz de mudar no futuro. Toda vitória que eu consiga hoje, por menor que seja, está criando condições para a reforma estrutural.
Folha - O movimento tem um caráter filantrópico, assistencialista. A filantropia sempre foi considerada inócua e muitas vezes associada à picaretagem.
Betinho - Pilantropia (ri). Este movimento está nos obrigando a diferenciar solidariedade de assistencialismo e filantropia de pilantropia. Para mim, solidariedade é um gesto ético, de alguém que quer acabar com uma situação, e não perpetuá-la. Já assistencialismo é exatamente o contrário.
(de uma entrevista de Betinho ao jornal "Folha de S. Paulo", 05/09/93).

6. Mas eis que Chico Buarque, justificando sua participação no show do Memorial veio com um argumento curioso. Você pode dizer que distribuir alimentos não resolve nada, lembrava ele, "mas não distribuir resolve alguma coisa?" Já que nada vale nada, um pouco de caridade é melhor que nenhuma.
(Marcelo Coelho, "Folha de S.Paulo", 08/09/93).

7. Na piscina do Clube Harmonia ouvi uma senhora gordinha dizendo que a campanha contra a fome era comandada pelo PT e que tinha por objetivo arrasar com o nosso país. Outras senhoras gordinhas concordaram, repetindo a velha história de que era melhor ensinar a pescar do que dar o peixe...
(Geraldo Anhaia Mello, Painel do Leitor, "Folha de S.Paulo", 09/09/93).

8. Pessoas que moram nas ruas de São Paulo não têm uma idéia exata do que seja a campanha da Ação Cidadania contra a fome, Miséria e pela Vida. Elas se dizem cansadas de movimentos que distribuem alimentos, mas não conseguem resolver o problema da miséria. Essas pessoas - que seriam as principais beneficiadas pela campanha - pedem a criação de mais empregos, pois querem conseguir uma morada e poder escolher a comida.
("Folha de S. Paulo", 21/09/93).

9. Na esperança da revolução redentora, a palavra de ordem era ensinar a pescar. Dar o peixe era o pecado assistencialista, que retardava o processo revolucionário. (...) Hoje sabe-se: o capitalismo não acaba com a miséria. O socialismo também não. Não há mais sonho nem a utopia. Resta apenas a concretude tenebrosa da miséria (...) não se está se sugerindo que a sociedade assuma o papel do estado. Mas é importante compreender: é a sociedade que muda o estado, não o contrário. (...) (o cidadão) morrerá, como têm morrido milhares, se alguém não lhe der comida.
(Alcione Araújo, Caderno FOME, "Jornal do Brasil", 12/09/93)

10. Eu nunca senti fome na vida, mas acho que deve ser muito triste.
(Adriana, 12 anos, "Veja", 15/09/93).


TEMA B

Leia atentamente o seguinte poema de Manuel Castro:

"para lá da cortina além da porta errada
silencioso e só está sentado
e lê num livro velho
a sua própria história."

Redija uma NARRATIVA de acordo com a seguintes especificações:
1. Construa uma personagem com base nos dados fornecidos pelo poema (por exemplo, o primeiro verso referente a um erro na vida dessa personagem).
2. Conte também a história que a personagem está lendo, de tal forma que se justifiquem os dois últimos versos do poema.

TEMA C

A questão da presença do Estado na economia esta sendo rediscutida, principalmente após as mudanças ocorridas no Leste Europeu, e devido à possibilidade de reforma da Constituição Brasileira. O texto a seguir é uma reportagem que apresenta a opinião de um grupo sobre o assunto.

EMPRESÁRIOS CONTRÁRIOS AO MONOPÓLIO E ESTATIZAÇÃO

Brasília (Meridional) - Os monopólios e estabilização só servem àqueles que os exercem, e a sociedade, ao contrário de ser beneficiária, fica refém e é chantageada. Esse é o principal argumento de mobilização dos empresários brasileiros para extinguir todos os monopólios estatais da Constituição. Pesquisa da Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF) (...) sugere ampla campanha denunciando o "retrocesso e malefícios atuais".(...)
Os empresários entendem que o Estado dispõe de várias(...) formas de intervenção no domínio econômico, que começam através do poder de conceder, cuja outorgação pode ser suspensa ou cassada. "Se o Estado já detém tantos poderes extraordinários, por que ele tem que ampliar seu absolutismo através de monopólios e outras estatizações?" questiona o documento da ACDF.
No texto há, ainda, um alerta: "Se os seguimentos mais liberais da sociedade não enfrentarem com determinação e coragem a reforma constitucional, a derrota será inevitável outra vez". O presidente da Federação das Associações Comerciais do DF, Josezito Nascimento Andrade, que subscreve o documento, diz que "se os inúmeros aspectos neomarxistas da Constituição se perpetuarem, a redenção do País continuará indefinidamente adiada."

Monopólio - A pesquisa identificou 39 atividades monopolizadas, como a pesquisa, lavra, refinação e importação do petróleo e seus derivados; pesquisa e lavra de gás natural; pesquisa e lavra hidrocarbonetos fluidos; a pesquisa, lavra, enriquecimento, reprocessamento e industrialização de minérios; telefonia, telegrafia, transmissão; propriedade de recursos minerais, dos bens do subsolo; manutenção do serviço social postal e do correio aéreo.
Sobre o que se considera privilégios constitucionais, os empresários questionam a estabilidade dos servidores públicos, a irredutibilidade dos seus salários, a disponibilidade com remuneração integral, a aposentadoria integral, independente do valor da contribuição. Questionam, ainda, a falta de qualquer limitação ou parâmetro para que as assembléias legislativas fixem os salários dos deputados estaduais. Para eles, essa liberdade absoluta tem gerado as maiores distorções salariais nos poderes legislativos.
O empresariado identificou três benefícios que classificam de inflacionários: férias com mais 33,33 por cento do salário, licença-maternidade 125 dias e licença paternidade. "Constitui boa ética ganhar mais quando se está em férias? Quem ganhar mais não deve trabalhar mais? Esse adicional sem causa é um fator de custos, é inflacionário. Deve, portanto, ser eliminado", alega o documento do ACDF. Sobre a licença maternidade, ele frisa que "tem sido grande causadora de desemprego da mulher e tem levado a uma redução dramática da natalidade entre mulheres de classe média".
("Diário da Serra", Campo Grande, MS, 22 e 23/08/93).

a) Faça resumo muito breve dos pontos de vistas da ACDF e transcreva-os no alto de sua folha de redação.
b) Em seguida escolha uma das duas alternativas a seguir.

1. Suponha que você é o ghost-writer* de um deputado que concorda com os pontos de vista da reportagem, e que ele lhe encomendou um discurso para ser lido na Câmara. Escreva um texto que contenha argumentos favoráveis (aprofundando os argumentos mencionados, acrescentando outros e dando exemplo) aos pontos de vista defendidos na reportagem e que tenha as características de um discurso que um deputado faria diante de seus colegas na Câmara, para convencê-los a votar favoravelmente à mudança de alguns dispositivos numa eventual revisão constitucional.
2. Suponha que você é o ghost-writer* de um deputado que discorda dos pontos de vista da reportagem, e que ele lhe encomendou um discurso para ser lido na Câmara. Escreva um texto que contenha argumentos contrários aos pontos de vista de seus colegas na Câmara, tentando convencê-los a não alterar tais dispositivos numa eventual revisão constitucional.
*Obs. Chama-se ghost-writer a quem escreve em nome de outros.
IMPORTANTE: qualquer que seja sua opção, você deve fazer referência aos tópicos da reportagem.

resposta:Resposta pessoal.



(Unicamp1994) No capítulo VII de O ATENEU, ao descrever a exposição de quadros dos alunos do colégio, o narrador assim se refere aos sentimentos de Aristarco:

"Não obstante, Aristarco se sentia lisonjeado pela intenção. Parecia-lhe ter na face a cocegazinha sutil do creion passando, brincando na ruga mole da pálpebra, dos pés-de-galinha, cortando a concha da orelha, calcando a comissura dos lábios, entrevista na franja pelas dobras oblíquas da pele do nariz, varejando a pituitária, extorquindo um espirro agradável e desopilante."

a) A que intenção se refere o narrador?
b) Quais características de Aristarco estão sugeridas neste comentário do narrador?
c) Lendo esta descrição você considera que o narrador compartilha dos mesmos sentimentos de Aristarco? Justifique.

resposta:a) A vaidade lisongeira de ver grafado seu próprio rosto.

b) A vaidade, o engodo, o orgulho e a felicidade de ser o diretor do Ateneu.

c) Não, Sérgio, o narrador, ironiza os sentimentos de Aristarco, pois através do diretor satiriza seu próprio pai e a sociedade em que vive.



(Unicamp1994) Leia o poema a seguir e responda:

Maria Diamba
1 Para não apanhar mais
2 falou que sabia fazer bolos:
3 virou cozinha.
4 Foi outras coisas para que tinha jeito.
5 Não falou mais:
6 Viram que sabia fazer tudo,
7 até molecas para a Casa-Grande.
8 Depois falou só,
9 só diante da ventania
10 que vinha do Sudão;
11 falou que queria fugir
12 dos senhores e das judiarias deste mundo
13 para o sumidouro.
(Jorge de Lima, "Poemas Negros")

a) Descreva a personagem a que se refere o poema. Cite algumas passagens do poema que justifiquem sua resposta.
b) O poema narra a história desta personagem. Que palavra(s) marca(m) no poema a evolução desta história?
c) Os versos 8 e 10 apresentam duas novas atitudes da personagem diante de si e da história. Identifique-as.

resposta:a) É uma escrava negra africana ("que vinha do Sudão;/ falou que queria fugir/ dos senhores e das judiarias deste mundo")

b) falou, não falou.

c) A reflexão sobre a sua condição e a disposição de abandoná-la.



(Unicamp1995) Em momentos de crise, o homem procura desesperadamente encontrar saídas. Cientistas sociais, filósofos, políticos afirmam que é preciso alterar as condições econômicas, sociais, educacionais, para que os indivíduos possam desenvolver seus problemas; místicos, esotéricos e defensores de várias formas de auto-ajuda prometem saídas pessoais, por vezes rápidas e eficazes. Na coletânea a seguir você encontra elementos relevantes para a análise dessa questão. Com base nos fragmentos dessa coletânea, redija um texto dissertativo sobre o seguinte tema: SAÍDAS MILAGROSAS PARA A CRISE: SOLUÇÃO OU ILUSÃO? Ao desenvolver a sua redação, além de expor suas opiniões, você deverá necessariamente levar em consideração a coletânea a seguir.

1. A auto-ajuda contém uma filosofia do senso comum, uma espécie de refinamento do que se vê nos pára-choques de caminhão.
"Sorria para a vida e ela sorrirá para você", por exemplo. Ou então: "Toda jornada começa com um passo". É possível discordar disso?


2. OS MAIS VENDIDOS.

Ficção:
1 - "O Alquimista", Paulo Coelho (8-212*)
2 - "Escrito nas Estrelas", Sidney Sheldon (1-14)
3 - "Memorial de Maria Moura", Rachel de Queiroz (3-31*)
4 - "O Dossiê Pelicano", John Grisham (4-10)
5 - "Recomeço", Danielle Steel (5-3)
6 - "A Firma", John Grisham
7 - "O Parque dos Dinossauros", Michael Crichton (4-9)
8 - "Bala na Agulha", Marcelo Rubens Paiva (8-39*)
9 - "As Valkírias", Paulo Coelho (2-53)
10 - "Noite sobre as Águas", Ken Follet (10-55*)

Não-Ficção:
1 - "Emagreça Comendo", Lair Ribeiro (1-6)
2 - "O Sucesso Não Ocorre por Acaso", Lair Ribeiro (2-56)
3 - "Prosperidade", Lair Ribeiro (3-37*)
4 - "Comunicação Global", Lair Ribeiro (5-50)
5 - "À Sombra das Chuteiras Imortais", Nelson Rodrigues (6-5)
6 - "Pequeno Manual de Instrução da Vida", Jackson Brown (7-18)
7 - "Minutos de Sabedoria", Torres Pastorino (8-8*)
8 - "Arte & Manhas da Sedução", Marion Vianna Penteado (9-12)
9 - "Na Sala com Danuza", Danuza Leão (4-48*)
10 - "Manual do Orgasmo", Marilene Cristina Vargas (7-5*)

Os números entre parênteses indicam: a) cotação do livro na semana anterior; b) há quantas semanas o livro parece na lista; (*) semanas não consecutivas. Esta lista não inclui os livros vendidos em bancas.

3. O arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, acredita que os livros de Paulo Coelho sejam uma espécie de apoio dos desacreditados na religião. "Eles oferecem um mundo espiritualizado para o vazio deixado pelo materialismo da máquina e ensinam a felicidade que cada um busca", diz dom Paulo.
(A CONVERSÃO DO MAGO, "Isto É", 03/08/94)

4. Para quem ainda não sabe, a grande tábua de salvação chama-se programação neurolingüística, PNL, tem menos de vinte anos de vida e é um sucesso planetário, sozinha ou somada a outras técnicas. Nada que é humano, de crises de claustrofobia a paixões por doces, lhe é estranho. Tudo é importante, tudo tem remédio. Ensina que o negócio não é ver para crer, mas crer para ver. (...) Andam dizendo que introduziu nos trópicos o conceito de felicidade portátil, do faça você mesmo agora (...).
Imagine-se, vendo para crer, uma platéia de cinqüenta pessoas reunidas num hotel (...) para ouvir o doutor Lair Ribeiro (...):
"O cérebro é uma máquina sofisticadíssima que vem sem um manual de instruções". (...) "Ele foi programado para te dar o que você quer e para ele você quer tudo o que pensa". (...) "Repita: dinheiro cresce como árvore. Dinheiro é limpo. Contribui para a felicidade. Pessoas ricas são abençoadas. O ser humano nasceu para ser próspero".

5. Há também quem veja utilidade em tudo isso, como o psicanalista carioca Luiz Alberto Py. Ele acha que a auto-ajuda é um caso de down=trading, uma característica do mercado de cigarros em que muitas vezes uma marca barata supera a venda das campeãs porque o preço delas subiu demais. "A psicanálise é cara. Comprar um livro de auto-ajuda é mais barato e pode funcionar", diz.
(Os fragmentos 1, 4 e 5 foram extraídos de A FELICIDADE PORTÁTIL, VEJA, 24/11/93)

6. VEJA - É possível recuperar a auto-estima brasileira, perdida na década de 80?
S. KANITZ [economista] - Os brasileiros foram cobaias de experimentos econômicos por quase dez anos, o que baixa a auto-estima de qualquer um. O Lair Ribeiro é resultado disso. Se as pessoas não estivessem de astral tão baixo, ele não venderia tantos livros. A auto-estima começa a melhorar quando você tem controle sobre sua vida econômica.
(A CRISE JÁ ERA, VEJA, 12/10/94)

7. As modernas listas de best sellers ilustram a imensa necessidade que temos desses livros de iniciação, verdadeiros manuais de sobrevivência para a travessia da vida. Mas a arte de viver adulta, envergonhada, costuma se apoiar em dois álibis: ou na psicologia, e então temos as lições positivas de Lair Ribeiro, ou na religião, e temos aqui as fábulas esotéricas de Paulo Coelho. Não ousamos, ainda, nos apegar a uma arte de viver sem muletas, moldada diretamente pela própria vida.
(José Castello, Caderno 2, "O Estado de S. Paulo", 08/11/94)

8. A crise criou discursos, que se digladiam pelos louros do acerto. No discurso clamor à nação, o orador pede a uma Razão secreta que desperte, tipo "Deus, onde estás que não respondes?". Tende para o religioso, para o sagrado horror, já que não há nenhuma Central da Razão que tome uma providência. (...). A crise é boa para aumentar o contato com o absurdo, logo, com o mistério da vida. Neste sentido, a crise é filosófica.
(adaptado de Arnaldo Jabor, "A crise é a salvação de muitos brasileiros", OS CANIBAIS ESTÃO NA SALA DE JANTAR)

9. Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem arbitrariamente, em circunstâncias escolhidas por eles mesmo, e sim em circunstâncias diretamente dadas e herdadas do passado.
(Karl Marx, O 18 BRUMÁRIO DE LUÍS BONAPARTE)

10. Vivi puxando difícil de difícel, peixe vivo no moquém: quem mói no asp'ro, não fantasêia. (...)
Viver é muito perigoso...
(palavras de Riobaldo, personagem de GRANDE SERTÃO: VEREDAS, de João Guimarães Rosa)

resposta:Dissertação.



(Unicamp1995) Na coletânea a seguir, há elementos para a construção de um texto narrativo em que se tematiza o relacionamento de duas pessoas, o cruzamento de duas vidas. Sua tarefa será desenvolver essa narrativa, segundo as INSTRUÇÕES GERAIS.

A tragédia deste mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso a uma época de sofrimento ou de felicidade. A tragédia deste mundo é que todos estão sozinhos. Pois uma vida no passado não pode ser partilhada com o presente.
(ALAN LIGHTMAN, 'Sonhos de Einstein', 1993)

CENA A: Um Homem, Uma Mulher.*

- Uma mulher deitada no sofá, cabelos molhados, segurando a mão de um homem que nunca voltará a ver.
- Luz do sol, em ângulos abertos, rompendo uma janela no fim da tarde (...) Uma imensa árvore caída, raízes esparramadas no ar, casca e ramos ainda verdes.
- O cabelo ruivo de uma amante, selvagem, traiçoeiro, promissor.
- Um homem sentado na quietude de seu estúdio, segurando a fotografia de uma mulher; há dor no olhar dele.
- Um rosto estranho no espelho, grisalho nas têmporas.
- As sombras azuis das árvores numa noite de luar cheia. O topo de uma montanha com um vento forte e constante.

CENA B: Um Pai, Um Filho*

- Uma criança à beira mar, enfeitiçada pela primeira visão que tem do oceano.
- Um barco na água à noite, suas luzes tênues na distância, como uma pequena luz vermelha no céu negro.
- Um livro surrado sobre uma mesa ao lado de um abajur de luz branda.
- uma chuva leve em um dia de primavera, em um passeio que será o último passeio que um jovem fará no lugar que ele ama.
- Um pai e um filho sozinhos em um restaurante, o pai, triste, olhos fixo na toalha de mesa.
- Um trem com vagões vermelhos, sobre uma grande ponte de pedra, de arcos delicados, o rio que sob ela corre, minúsculos pontos que são casas à distância.

INSTRUÇÕES GERAIS:

- Escolha um elemento de apenas uma das cenas apresentadas (A ou B), para construir, as duas personagens, o cenário, o enredo e o tempo de sua narrativa.
- O foco narrativo deverá ser em 3 pessoa.
- O desenvolvimento do enredo, a partir da cena escolhida por você, deverá levar em consideração o trecho de Alan Lightman, que introduz a coletânea.

*(os fragmentos das cenas A e B também foram extraídos do livro de A. Lightman)

resposta:Narração.



(Unicamp1995) Na luta contra a Aids defrontam-se os rigorosos, que exigem respeito aos princípios preventivos básicos e corretos, contra os complacentes. Aqueles exaltam o valor do relacionamento sexual responsável, o combate efetivo à toxicomania e a adequada seleção de doadores de sangue. Os outros preconizam coisas mais agradáveis, como por exemplo o emprego desbragado e a doação gratuita de camisinha, a distribuição de seringas com agulhas a drogados e a perigosa, além de problemática, lavagem delas com água sanitária. Agora, os permissivos, que não estão obtendo qualquer vitória, pois a doença afigura-se cada vez mais difundida, ganharam novo aliado: o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN), que concordou com o fornecimento de seringas e agulhas, sem ônus, aos viciados. Portanto, esse órgão público associou ilegalidade à complacência.
(VICENTE AMATO NETO, médico infectologista, Painel do Leitor, Folha de S. Paulo, 18/09/94)

A carta acima fez referência a uma proposta polêmica do CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes): o fornecimento gratuito de seringas e agulhas a viciados em drogas injetáveis.
a) Caso você concorde com a proposta da CONFEN, escreva uma carta ao Dr. Vicente Amato Neto, procurando convencê-lo de que ela pode de fato contribuir para evitar a disseminação do vírus da Aids.
b) Caso você discorde dessa proposta, escreva uma carta ao presidente da CONFEN, procurando convencê-lo de que ela não deve ser posta em prática.
Ao desenvolver sua redação, além de expor suas opiniões, você deverá necessariamente levar em consideração a coletânea a seguir.

1. Graças a uma legislação liberal, a maior cidade Suíça (Zurique) criou uma área especial - Letten, uma estação de trens desativada - onde é possível comprar e usar heroína em plena luz do dia. (...) Desde 1992, quando os junkies* se mudaram da Platzpitz, uma praça no centro da cidade, para Letten, o consumo não pára de crescer - um fato atestado pelas 15.000 seringas descartáveis distribuídas diariamente na velha estação. A única vantagem é que a distribuição reduziu o ritmo de disseminação da Aids.
[*junkies: termo inglês que significa drogados.]
(O pico à luz do dia, VEJA, 07/09/94)

2. Em nosso país, exige-se o diploma para que alguém aplique injeção endovenosa, porque pessoas não treinadas criam perigosas situações para si ou para outros, ao realizar inoculações. Fornecer agulhas e seringas a pessoas não habilitadas para seu uso é como dar um carro a menores de idade, ou uma arma a quem não sabe utilizá-la. Isso é pelo menos indesejável para a sociedade, além de ser ilegal. No caso, a ilegalidade se tornaria incontrolável, pois o distribuidor dos medicamentos e agulhas seria o próprio Estado.
A proposta de um programa como esse não leva em conta a realidade, causando desperdício de recursos já precários. Tais propostas são feitas por pessoas que nunca viram, de fato, como funciona uma "roda", provavelmente dirigentes sem formação médica e sem assessoria adequada (sociológica etc). Não é difícil adivinhar que se trata de um plano que só beneficia vendedores de agulhas e seringas e burocratas de escritório, não tendo qualquer conseqüência para a epidemia da Aids.
[*roda: prática, comum entre drogados, que consiste no uso de uma mesma seringa por várias pessoas.]
(adaptação de VICENTE AMATO NETO & JACYR PASTERNAK, 'A doação de seringas e agulhas a drogados', O ESTADO DE S. PAULO, 05/09/94)

3. A distribuição de seringas para usuários de drogas pode diminuir pela metade a taxa de propagação do vírus da Aids neste grupo de risco. A conclusão é de uma pesquisa realizada na Universidade John Hopkins, de Nova York, que envolveu 22 mil pessoas em vários bairros nova-iorquinos.(...)
Antes do programa, uma seringa era emprestada, alugada ou vendida em média 16 vezes nos bairros onde foi feito o controle. O programa reduziu este número em quatro vezes.
Existem 200 mil usuários de drogas injetáveis em Nova York, metade deles infectados com o vírus da Aids.
(Programa corta em 50% taxa de infecção de HIV, "Folha de S. Paulo", 02/11/94)

4. [No futuro, pagaremos] caro pela ignorância e irresponsabilidade do passado. Acharemos inacreditável não havermos percebido em tempo, por exemplo, que o vírus da Aids, presente na seringa usada pelo adolescente da periferia para viajar ao paraíso por alguns instantes, infecta as mocinhas da favela, os travestis na cadeia, as garotas da boate, o meninão esperto, a menina ingênua, o senhor enrustido, a mãe de família e se espalha para a multidão de gente pobre, sem instrução de higiene. Haverá milhões de pessoas com Aids, dependendo de tratamentos caros e assistência permanente. (...)
(DRAUZIO VARELLA, 'A era dos genes', "Veja 25 anos" - Reflexões para o futuro, 1993)

resposta:Resposta pessoal.







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